por Fergs Heinzelmann – Angela Freiberger usa o corpo como instrumento na performance “Corpo-teto Corpo-chão”.
Um trabalho conceitual envolvendo o corpo como principal suporte será apresentado na Paralelo Gallery, em São Paulo. Trata-se de Corpo-teto Corpo-chão, uma performance inédita idealizada e realizada por Angela Freiberger. A apresentação tem duração de uma hora e é parte da exposição de mesmo nome que traz também fotografias e esculturas de Freiberger sob a curadoria de João Paulo Siqueira Lopes e Maria Vittoria Oliveira. Na performance, Angela é sustentada por uma estrutura feita de tecidos brancos, e interage com o público por meio de perguntas “materializadas” em lãs e pregadores. Na ocasião ela usará um vestido, com cauda de mais de 2,5m de comprimento, que traz em seu interior o único feixe de luz que incide na galeria.
ARTINFO Brasil conversou com Angela Freiberger para saber mais sobre o trabalho que poderá ser visto hoje na galeria paulistana.
Qual foi o ponto de partida para desenvolver a performance “Corpo-teto Corpo-chão”?
O ponto de partida veio da situação de fisicamente se colocar em um estado de suspensão, entre dois espaços, o de cima e o de baixo. Assim, o corpo do público estará sobre o chão e meu corpo, sob o teto. Esta relação, entre eu e o público acontecerá pela interação que acontece entre esses dois meios, o de cima e o de baixo. A ação que possibilitará interagir com o público acontecerá através de questões propostas por mim e que serão materializadas – lançadas do teto da galeria ao chão – através de fios de lã.
Que conceito foi trabalhado na performance e qual seu objetivo central?
O conceito baseia na experiência de elevar o público, que estará no chão, ao status do artista, que estará no teto. Ao mesmo tempo irei vivenciar a experiência inversa de me colocar no papel do espectador, indo rumo ao chão. O público vai ser convidado ou até induzido a responder essas perguntas, na tentativa de subverter a tradicional relação entre artista, obra e espectador. São perguntas que têm o intuito causar surpresas, reflexões ou desconfortos.
De que maneira as esculturas e fotografias que também integram o espaço expositivo se relacionam com a performance apresentada?
As esculturas tratam de formas obtidas através de espaços e intervenções de meu próprio corpo no mármore ou simulacros de meus órgãos. Indo além da matéria, as fotos são registros de meu contato com a obra revelando ao espectador a intimidade da interação entre criador e criação.
A performance, por sua vez, traz o terceiro elemento restante de minha pesquisa: o espectador – para essa relação que subverte o triângulo artista/ obra/ espectador. Assim, em primeiro lugar temos um artista desenvolvendo sua obra, em segundo um artista compreendendo sua obra e em terceiro um artista abrindo sua obra para ser explorada pelo público.
Você já pesquisa o corpo como instrumento há bastante tempo, como você começou a abordar estas questões na arte? O que despertou seu interesse por este tipo de abordagem?
Nos anos 90, durante o processo de execução das minhas esculturas, automaticamente o corpo começou a fazer parte delas de uma maneira que eu não pudesse distinguir os suportes. Essa abordagem aconteceu assim de uma forma intrinsecamente natural. O meu corpo foi entendido por mim como extensão das minhas esculturas e posteriormente outros suportes como vídeo e instalação também foram incorporados a essa pesquisa do desapego ao suporte. A cor branca, no entanto, é fundamental na propagação da minha arte indiferente do suporte.
Como é trabalhar com performance no Brasil? Como este tipo de trabalho é recebido e compreendido no cenário/ mercado nacional?
A ideia de criar esta instalação site-specific para a Paralelo, tem como enfoque aproximar o público desta ação em tempo real denominada performance. O conceito de performance ainda é levemente desconhecido do grande público não ligado à arte contemporânea que tem uma percepção vaga sobre o assunto. Decidi, com o curador da exposição, integrar todos os suportes com os que trabalho para uma experiência interativa. A galeria Paralelo, por sua vez decidiu fomentar esta vertente mais experimental da criação contemporânea, visando abrir a compreensão das pessoas para trabalhos imateriais.